quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A verdade na Literatura e na Psicologia



Costumo dizer que a Literatura é vida. Se você pensar bem, toda a multiplicidade de elementos que compõe a humanidade está presente nos clássicos literários. Então, o que é a Literatura? De certa forma, a Literatura é o grande oceano no qual o conhecimento deságua. Ok, dito isso, você pode estar se perguntando: “Ué, o que isso tudo tem a ver com Psicologia?”. Como jornalista e profissional de Letras (portanto, leigo nos conceitos que decifram a alma), respondo confiante: TUDO!
 
Para defender meu “contundente” argumento, vou me ater a apenas um ponto vital das obras literárias: o narrador. Basta você pensar nos seus títulos preferidos e lembrar qual o “propósito” ou enfoque dado à trama. Segundo Thomas C. Foster, no livro “Para Ler Romances como um Especialista”, é justamente a figura do narrador que dará o tom do relato.
 
Para ficar em apenas três modelos, iniciarei pelo ponto de vista do narrador em primeira pessoa. Quem garante que quem conta os fatos está falando a verdade? Impossível. Em muitos casos, o personagem-narrador nem sabe o que está acontecendo em outros “núcleos” da trama. Continuando com o raciocínio de Foster, o narrador em terceira pessoa como “testemunha” dos episódios relatados também pode deturpar a “veracidade” das ações, dando o enfoque que bem entende. Resumindo: manipula a leitura. E o “tradicional” narrador onisciente que aparentemente, como um Deus, sabe e vê tudo. Pela simples impossibilidade de relatar tudo o que conhece sobre os personagens, esse tipo de narrador “seleciona” os pontos que merecem destaque para o andamento do romance ou conto.

Como deve ter notado, não existe um narrador imparcial. Em outras palavras, o autor decidirá sob qual ponto de vista a trama será narrada. Bingo! Eis a palavra mágica à qual eu queria chegar: parcialidade.
 
Antes de avançar para o próximo argumento, sugiro que você faça um exercício mental para “comprovar” o que foi dito acima. Imagine duas situações que você viveu recentemente. Uma positiva e outra nem tanto. Agora tente fazer um relato das duas. Note que na experiência negativa há uma clara tendência de “culpar” ou, na melhor das hipóteses, valorizar demais a importância dos outros no episódio. Já na positiva, você dá um grande destaque à própria atuação. Obviamente, as duas versões não refletem o fato em si. Assim como um escritor, você acabou de aplicar diferentes pontos de vista. Foi parcial!
 
Em parte, tratando-se da vida real, os tais pontos de vista variam de acordo com nosso humor, interesses (propósitos) e preconceitos. (Sim, não adianta revirar os olhos, todos temos preconceitos.) Na Literatura, esse recurso possibilita que o escritor amplifique o sentido da obra. Então, pouco importa se a trama será contada em primeira ou terceira pessoa, onisciente ou não, essa decisão refletirá uma visão de mundo.
 
Assim é a vida. Todos nós buscamos a “verdade”! Mas o que é a verdade? Uma abstração, talvez! Se a sua visão de mundo é diferente da minha, obviamente teremos “verdades” diferentes. Podemos presenciar o mesmo fato e criar versões totalmente distintas. Então, como saber qual está certa ou mais próxima da realidade? IMPOSSÍVEL!
 
Em diferentes gradações, a Literatura transborda veracidade nas entrelinhas, pois ela é feita com base nas peculiaridades da alma humana, tão única, tão diferente e tão intrínseca à essência de cada um.
 
Viva a Literatura! Viva a Vida!
 
_______________________________________________________
 
Antonio Munró Filho, jornalista e profissional de Letras, é o criador do blog cultural Alegria de Ser o que É. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário