quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"A autorrealização do Ser"

De Tao veio o Um.
Do Um veio o Dois.
Do Dois veio o Três.
E o Três gerou os Muitos.
Toda a vida surgiu da Treva
E demanda a Luz.
A essência da vida engendra
A harmonia das duas forças.
Nenhum homem quer ser solitário
Abandonado e insignificante
Reis e príncipes se dizem ser assim
Porque sabem do mistério:
Que o inconspícuo será exaltado
E o importante decairá.
Por isto, ensino também eu
O que outros ensinavam:
Quem age egoicamente
Está morto
Antes de morrer.
É este o ponto de partida da minha filosofia.
                                                         (Lao-Tse)

Há inúmeras textos e artigos que discorrem inclusive academicamente sobre o tema autorrealização. Optei, contudo, por este, oriundo da filosofia oriental, por ser tão antigo (6 a.C) e ao mesmo tempo tão contemporâneo. 

Cabe aqui uma breve explicação sobre suas linhas iniciais, embora não sejam o enfoque do presente escrito. A filosofia oriental entende que o Tao seja, em síntese, a combinação das infinitas possiblidades de criação do Universo. A partir dele, surge o Um, representado pelo mundo das formas, do material, cuja relação com o mundo das possibilidades, gera o Dois. É a criatividade em ação na matéria, cuja união gera o Três. A vida manifesta, que gera vida, sucessivamente.

Observemos a proposta do autor quanto à dualidade Treva e Luz a partir da ideia da gestação. A vida que há dentro do útero se desenvolve em meio à escuridão que nele há para, então, ser dada à Luz, no nascimento. Ambas são, portanto, polaridades que envolvem uma mesma força: a vida. O mesmo ocorre para todas as outras polaridades que intercedem uma mesma força ou energia: quente e frio, verão e inverno, alto e baixo, e por aí vai...

A imagem em destaque permite perceber algumas polaridades: pequeno/grande, fraco/forte, claro/escuro. (A Gestalt-terapia e a Psicologia Analítica, abordagens da Psicologia, dão grande destaque a esta relação de polaridades ou opostos polares em sua fundamentação) Num primeiro momento, ouso generalizar que nossa tendência habitual é afirmar que a mãozinha enfraquecida é que necessita da mais forte. Isso porque esquecemos de fazer a correlação que existe entre as polaridades. Uma não é sem a outra. Há uma necessidade mútua que mobiliza ambos a estender as mãos e se unir.

Não se trata de um olhar enrigecido do "isso OU aquilo". Mas da integração pelo "isso E, também, aquilo".

Aí está a chave para a autorrealização: o reconhecimento de que Eu sou tão importante e ao mesmo tempo insignificante quanto o não-Eu. É fundamental que olhemos, sim, para o próprio umbigo. Assim como o é olharmos para o que vai além de nós. Neste movimento, somos altruístas ao sermos egoístas E somos egoístas ao sermos altruístas.

Por isso, Lao-Tsé se refere à morte em vida para quem age egoicamente: agir apenas em função do que se espera vir de fora, ignorando todas as potencialidades que existem no próprio Ser é ignorar a possibilidade de deixar viver a totalidade que a nossa essência propõe.

*Texto modificado em 22/02/2014.
Gisele Faria 
Psicoterapeuta (CRP 05/37984)
Terapeuta complementar

Atendimento com hora marcada:
(21) 8872-7799
Estrada de Jacarepaguá 7221 Sala 508 Freguesia RJ
 


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Amar ao próximo como a si mesmo


Esta frase deve ter sido ouvida por praticamente toda a humanidade, tanto pelos que se afinam com o cristianismo quanto pelos que não.

Há mais de 2.000 anos, segundo os textos bíblicos, fora instituído um mandamento para o homem amar. Um mandamento... para amar.

Isso me faz pensar o quanto desconhecemos, ainda hoje, esse verbo que parece tão familiar e ao mesmo tempo desconhecido; quase um mito, como um pote de ouro no fim do arco-íris.

Talvez tenhamos confundido o real sentido de riqueza. Queremos o ouro, só não atentamos para o fato de que ele não tem forma de bezerro nem é um objeto a ser adorado para que a felicidade bata à porta do coração.

Dois mil anos atrás fora preciso impor ao homem que não matasse; que não roubasse; que não invejasse; que não cobiçasse o que não lhe pertence, que respeitasse.

Crescemos com o que nos foi ditado sobre o que é errado. E então desenvolvemos o processo de educar nossos impulsos. A questão é: nós realmente aprendemos a controlar tais impulsos ou nos condicionamos a repreendê-los? Nós simplesmente decoramos a lição? Ou assimilamos o seu conteúdo?

Buscamos ser bons alunos da vida. Mas que tipo de bons alunos? Aqueles que estudam apenas para tirar nota ou passar de fase? Ou para realmente aprender?

Será que a solução é simplesmente dizer NÃO aos nossos impulsos? Como crianças, eles nos perguntam "Por que não?", fazendo beicinho e batendo o pé no chão, e respondemos "Porque não" ou então "Porque é feio".

Será que o que realmente importa é ficarmos bem na foto? A criança interior, na condição de ser dependente do outro (esse outro inclusive a nossa própria consciência), acaba por engolir a contragosto a resposta sem sentido. Então passa a reproduzir o que lhe foi "ensinado". Até descobrirmos com a própria vida que não é bem assim. E que precisamos de respostas consistentes e coerentes por ter o direito de viver, e não apenas sobreviver.

Por que não dialogar com os impulsos? Por que não dialogar com essa criança que só quer aprender a existir? Aprender inclusive que, para existir, ela precisa do outro assim como precisa da própria vida. Daí a atenção, o cuidado, o respeito. Será que aí não está uma resposta fundamentada?

Será que tanto tempo depois, em pleno Século XXI, nós não somos capazes de refletir e dialogar com nossos impulsos? 

O que é amar, afinal? É seguir indiscriminadamente uma série de regras que nos foram impostas, com a devida funcionalidade, por conta da nossa própria ignorância? É nos mantermos ignorantes simplesmente repetindo o que nos foi repassado de geração a geração sem termos consciência do que escolhemos?

Esse tesouro não é palpável mas é alcançável. 

Como eu sei?? 

Conversando com minha criança interior.

Gisele Faria 
Psicoterapeuta (CRP 05/37984)
Terapeuta complementar

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(21) 8872-7799
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